É com grande alegria que inicio meu post do clube do livro no dia 8 de março, dia Internacional da mulher. E certamente não haveria inspiração melhor para esse post pois não há como desvincular o dia 8 de março com luta. Hoje vou falar então sobre o papel da mulher nas guerras e também na revolução russa.

Poster para recrutamento de mulheres

Hoje em dia, quando estudamos história das grandes guerras,  é  inqüestionável a importância do papel da mulher em tempos de guerras e revoluções.  Apesar de a marinha e o exército contarem com o trabalho feminino desde 1900, atuando principalmente como enfermeiras, foi apenas durante a primeira guerra que as mulheres começaram a ser consideradas de fato como força de trabalho. Considerando a falta de contingente, a marinha passou por cima de toda a burocracia que proibia o alistamento de mulheres e nessa ocasião, cerca de 13 mil mulheres foram incorporadas. Cerca de 30 mil mulheres participaram da guerra mesmo antes de terem direito a voto. Na segunda guerra a participação da mulher foi expandida e ainda mais marcante e se deu em muitos setores.  Mas o papel mais marcante da mulher durante as grandes guerras foi de fato o trabalho como operárias nas indústrias bélicas e também na organização social.

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Se por um lado a guerra trouxe para as mulheres a agonia, o desespero e a dor incurável de perder seus filhos e maridos, os estupros acompanhando todo o tipo possível de violência sexual e física, a necessidade de sobreviver a guerra trouxe à mulher a liberdade de sair de suas casas e se dedicar a algo mais do que as tarefas domésticas.

O que ocorreu foi que em tempos de guerra a escassez é um fato. Com a ida de quase todos os homens para a guerra, a força de trabalho dos países se estingue e com as fábricas vazias e a economia indo ao colapso absoluto, gente passando fome, não é hora de ficar inventando história de diferenças sexuais. A única maneira de resolver a situação era convencer as mulheres a largarem seus afazeres domésticos e a educação das crianças e irem para o trabalho. Ah… mas isso foi muito fácil ! E para que servem as revistas femininas ?

Venha para as Fábricas !

Nessa época surgiram vários posters e propagandas dizendo como era lindo a mulher trabalhar ! Afinal, nós também somos capazes de movimentar a engrenagem, apesar de sempre terem nos falado exatamente o contrário. Na Alemanha vi uma seção inteira de um museu só com posters desse tipo, mas talvez o mais conhecido no Braisl seja o criado pelo artista gráfico Howard Miller, que se chama “We Can Do IT!” (em português: Nos podemos fazer isso!) e foi criado para ser publicado em várias revistas femininas durante a segunda guerra mundial.

E a mulherada arregaçou as mangas sujas de sangue e entraram para as fábricas mostrando sua força real de trabalho. No entanto, no final das guerras, com a volta dos soldados, a grande maioria perdeu seu emprego tendo que trabalhar de empregadas domésticas ganhando uma miséria para sobreviver. As que continuaram nas fábricas tiveram que submeter a salários absurdamente mais baixos que os homens, mesmo executando as mesmas tarefas. Ou seja, bora botar a mulherada em casa de novo. Mas a história apesar de ter mudado um pouco de lá até cá, todos nós conhecemos muito bem. E por isso que o dia 8 de março é um dia de luta.

Mas vamos falar um pouco da revolução russa e a mulher. Em termos de emancipação feminina, podemos dizer que a revolução russa estava a anos luz a frente de seu tempo, promovendo em 1917 uma série de direitos políticos, econômicos e sociais para as mulheres dentre os quais muitos ainda hoje estão na lista de reivindicação das mulheres em vários países, incluindo no Brasil. Manuela Pires listou todos os direitos concedidos as mulheres em 1917, dentre eles estão: direitos políticos iguais e o direito de votar e ser eleita, direito ao trabalho e salário igual, jornada de oito horas de trabalho, salvaguarda do direito ao emprego durante a gravidez, licença maternidade, entre outros… O texto pode ser lido na íntegra nesse link aqui. Achei outros dois textos interessantes sobre a mulher e a revolução russa, aqui e aqui, que valem a pena serem lidos.

E para terminar, deixo vocês com a frase de Lenin:

“O proletariado não poderá libertar-se totalmente sem ter conquistado a liberdade total para as mulheres”

Vice ? Se todo mundo pensasse como titio Lenin e seus amiguinhos não seria necessário sair pelas ruas no dia 8 de março levantando bandeiras e chamando na chincha. Ao contrário disso poderíamos estar felizes e contentes em nossas casas cuidando de nossos filhos, ou simplesmente trocando flores nas ruas por termos um motivo para comemorar ao invés de motivos para reivindicar. Mas enquanto o submundo existir, estaremos na luta companheiras !

Um ótimo domingo para todos e até semana que vem !

Lys

Maria Bonita

Maria Bonita

PS: Falando em mulheres guerreiras, outra feliz coincidência que não poderia combinar mais com o post de hoje, é que dia 8 de março é comemorado o dia de nascimento de Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, fiel companheira de Virgulino Ferreira da Silva, primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros.