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Comprei o livro da vez ontem, de tarde. E como ainda não comecei a leitura, me interessei em pesquisar alguns elementos históricos da autora, Virgínia Woolf. E tive alguns bons apontamentos, na medida em que ainda não conhecia o seu trabalho de forma ampla.

Considerada escritora modernista, Woolf foi influenciada pela estética de James Joyce (1a foto), que tem como um de seus principais elementos retóricos a técnica conhecida como “fluxo de consciência”. Influenciado (como quase todos de sua época) pelas idéias da psicanálise de Freud, Joyce trouxe para sua literatura um confronto efetivo entre passado e futuro, rasgando as fronteiras do tempo e do espaço, características das visões deterministas.

Esse fluxo trazido à tona do texto visa produzir um corte na narrativa linear, uma das grandes contribuições da literatura modernista. A narrativa não-linear mostra o quanto as fronteiras entre as lembranças e as surpresas são amplamente permeáveis entre si – digamos, por aqui: o espaço-tempo do pensamento é uma eterna Banda de Moebius.

No Brasil, Michel Melamed (2a foto) vem produzindo vários trabalhos, em televisão, teatro, literatura e música, tematizando diversos enredos que agem como álibis para exercitar a não-linearidade. Vale a pena gastar dez minutos e ouvir um trecho de uma entrevista sua ao canal universitário da UnB, de Brasília, para escutar suas críticas ao pensamento pretensamente linear. O link está aí: http://br.youtube.com/watch?v=K4C3ppDYME4 .

A não-linearidade é uma proposta artística de enxergar a vida como ela é, ou seja, “não-linear”. Nesse sentido, se propõe a linearidade como um espaço de descontinuidade que se reverbera com o intuito de brecar a dissipação do sentido. O problema inevitável da linearidade é que ela sempre se cristaliza em preconceitos solidificados pela ilusão fatal da verdade. Mais uma vez vale propor o Freud como exemplo de uma leitura não-linear, visto que o pensador alemão acessava os mitos como referência de suas teses, rompendo com o discurso da neurologia. Os mitos são discursos não-lineares, porque sua retórica se baseia no acesso intermitente ao passado, o que cria um diálogo freqüente entre o a priori histórico da narrativa (aquilo que se esconde em cada vão entre os acordes de uma fala aparentemente “presente”) e a “presentificação” do ritual (!) da mesma fala.

Aliás, se considerarmos a coerência da visão da vida (do pensamento) como não-linear, no fundo a única “técnica” que atua mesmo é justamente a da linearidade. O que nos traz para a leitura de que é a literatura que se encontra no registro da realidade, e não o “externo ao texto” (que seria, então, des-locado em obras como a de Joyce). É o afã da linearidade que tenta em vão “locar” o vão eterno da linguagem e não o contrário. Literatura é isso que nos arrasta para a correnteza de nossos fracassos e delírios. É como diz nosso querido tradutor, o Mario Quintana: “não pergunte o que diz uma poesia: ela diz sempre uma outra coisa”. O mesmo serve para a linguagem, de maneira geral.

Se Virgínia Woof for por este mesmo caminho, como fica parecendo nas primeiras referências, inclusive as ligadas ao romance “Mrs. Dalloway”, certamente vai produzir efeitos críticos interessantes.

Para terminar, vale dizer que fiquei sabendo que o romance mais conhecido da autora se chama “Orlando”. Mais um motivo para motivar minha leitura, visto que se trata do nome de meu querido avô, falecido em 2001, e minha grande referência ética, oxigênio de minha contagem regressiva nessa farsa gostosa chamada vida.

Marcelo Henrique Marques de Souza

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